Escrito por Eduardo Alves Agrônomo e Professor Associado do Departamento de Fitopatologia da UFLA
Óleos Essenciais no Controle de Pragas
Óleos essenciais (OEs) produzidos pelo metabolismo secundário de plantas têm sido vistos como fontes de substâncias químicas de atividades biológicas intensas. Estudos realizados têm indicado o potencial dos mesmos no controle de fitopatógenos, tanto por sua ação fungitóxica direta, como pela capacidade de indução de resposta de defesa da planta (Schwan-Estrada, 2003). Assim sendo, a exploração da atividade biológica de compostos presentes em OEs de plantas tem constituído em mais uma forma potencial de controle de doenças em plantas. Vários trabalhos são encontrados na literatura sobre o uso de OEs no controle de fitopatógenos. A maioria absoluta trata de seus efeitos diretos sobre os fitopatógenos, principalmente in vitro, mas é também observada sua ação como indutores de resistência, levando as plantas a elevarem a produção de fitoalexinas, PR-proteínas e outros compostos de defesa, indicando a presença nestes compostos de substâncias com características eliciadoras, que podem ter baixo impacto ao ambiente.
Plantas e Suas Defesas
Como exemplo da efetividade de OEs no controle direto sobre fitopatógenos pode-se citar o trabalho desenvolvido por Pereira et al. (2011) que evidenciaram uma atividade direta na inibição do crescimento micelial de Cercospora coffeicola por parte de OEs de árvores de chá (Melaleuca alternifolia), canela (Cinnamomum zeylanicum), capim-limão (Cymbopogon citratus), citronela (Cymbopogon nardus L.), cravo-da-índia (Sizygium aromaticum L.), eucalipto (Corymbia citriodora Hook), nim (Azadirachta indica) e tomilho (Thymus vulgaris L.), além do efeito direto atuando na inibição do crescimento micelial. Esses autores demonstraram também que os OEs de canela e citronela reduziram a incidência e a severidade da cercosporiose em cafeeiro. A atividade direta de OEs sobre fitopatógenos também foi documentada por Roswalka et al. (2008), que relataram um efeito fungitóxico por parte do OE de cravo-da-índia, com uma inibição registrada de 100% no crescimento micelial de Glomerella cingulata e C. gloeosporioides. Analogamente, tal atividade também foi relatada em pesquisas mais recentes, realizadas por Perina et al. (2013) os quais observaram que OEs de citronela (C. nardus) capim-limão (C. citratus) e eucalipto (C. citriodora) associados ao leite em pó como solvente, apresentaram um controle da ordem de 67 a 74% na severidade do oídio da soja. De forma semelhante, Teixeira et al. (2013) relataram uma redução na incidência de Stenocarpella maydis em sementes de 39,0% e 28% alcançadas com os OEs de cravo-da-índia e canela respectivamente. No controle de doenças pós-colheita, os OEs também têm mostrado ser efetivos em goiaba, manga, mamão e banana, contra antracnose, tanto diluídos em leite em pó 1% quanto associados a películas de amido a 2% em revestimento de frutos.
A indução de resistência em plantas contra patógenos também tem sido bastante pesquisada nos últimos anos, tanto na indução de fitoalexinas como de PR-proteínas sendo, sendo que em alguns exemplos de estudos de Pereira et al. (2011) utilizando OEs das espécies C. zeylanicum e C. nardus, foram observadas a inibição do desenvolvimento e elongação da hifa do patógeno Cercospora coffeicola em folhas de cafeeiro (Coffea arabica L.) inoculadas aos dois dias após a aplicação, sugerindo a ativação de respostas de defesa da planta e a atividade preventiva desses OEs. Cientes desses dados, Pereira et al. (2012) estudaram o efeito do OE de citronela (C. nardus) no controle e na ativação de respostas de defesa do cafeeiro contra a ferrugem e a cercosporiose do cafeeiro. Dessa forma, esses autores demonstraram que o OE de citronela controlou a ferrugem e a cercosporiose com eficácias de 47,2% e 29,7%, respectivamente e aumentou as atividades das enzimas peroxidase e quitinase em mudas de cafeeiro após 336 horas após pulverização, respectivamente.
Pesquisas demonstram que o OE de citronela controla a ferrugem e a cercosporiose com eficácias de 47,2% e 29,7%, respectivamente e aumenta a atividade das enzimas peroxidase e quitinase em mudas de cafeeiro após 336 horas pós-pulverização.
Além de doenças fúngicas, as doenças bacterianas apresentam desafios para o controle, principalmente no que concerne à agricultura orgânica, na qual o uso de produtos químicos é proibido. Nesse contexto, Lucas et al. (2012) estudaram o potencial do OE de cravo-da-índia (S. aromaticum) na redução da mancha bacteriana do tomateiro e a ativação de respostas bioquímicas de defesa de plantas. Com isso, os autores obtiveram um controle da mancha bacteriana do tomateiro de 53,0% por parte do OE de cravo-da-índia. As resistências induzidas em plantas, pelos OEs de cravo-da-índia, foram evidenciadas pelo aumento da atividade das enzimas β-1,3-glucanases, quitinases, peroxidases iniciada logo nas primeiras horas após a pulverização, e, do aumento do teor de lignina aos 12 dias após as pulverizações. Esses resultados levaram os autores a sugerir o uso de OE de cravo-da-índia como um potencial indutor de resistência em tomateiro.
As doses de óleos essenciais com efeitos no controle de doenças em plantas têm variado de 0,1 a 1 %, dependendo da espécie da planta do qual o OE foi obtido e da doença a ser controlada. Também tem sido observado que doses maiores podem causar fitotoxidez em plantas.
Referências
– Lucas GC, et al (2012) Indian clove essential oil in the control of tomato bacterial spot. Journal of Plant Pathology, v. 94, p. 45-51.
– Pereira RB, et al. Potential of essential oils for the control of brown eye spot in coffee plants. Ciência e Agrotecnologia, v.35, p.115-123, 2011.
– Pereira RB, et al. Citronella essential oil in the control and activation of coffee plants defense response against rust and brown eye spot. Ciência e Agrotecnologia, v.36, p. 383-390, 2012.
– Perina FJ, et al. Essential oils and whole milk in the control of soybean powdery mildew. Ciência Rural v. 43, p. 1938-1944, 2013.
– Rozwalka LC, et al. Extratos, decoctos e óleos essenciais de plantas medicinais e aromáticas na inibição de Glomerella cingulata e Colletotrichum gloeosporioides de frutos de goiaba. Ciência Rural v.38, p. 301-307, 2008.
– Schwan-Estrada, K R F Potencial de extrato e óleos essenciais de vegetais como indutores de resistência: plantas medicinais. In: II Reunião brasileira sobre indução de resistência em plantas contra fitopatógenos, São Pedro. Anais. São Pedro: USP 2003. p. 147. 2003.
– Teixeira GA, et al. Essential oils on the control of stem and ear rot in maize. Ciência Rural v.43, p.1945-1951, 2013.